segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Famílias adotivas de SP vão recorrer de decisão que determinou volta à BA


Juiz de Monte Santo autorizou devolução de 5 crianças à mãe biológica.
Uma das mães se recusou a entregar; Silvania está em SP para reencontro.

As famílias adotivas das cinco crianças que foram retiradas da mãe em Monte Santo, na Bahia, prometem recorrer da decisão judicial que determinou o retornou dos pequenos à mãe biológica, Silvania, segundo divulgou o Fantástico neste domingo (2).

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A mãe viajou para São Paulo na sexta-feira (30) com o filho caçula, que nasceu depois da retirada forçada dos irmãos de casa. Eles irão reencontrar as crianças e ficar com elas por duas semanas em uma organização de acolhimento provisório para que, com a ajuda de assistentes sociais e psicólogos, haja a aproximação. Depois, as crianças retornam para a cidade de Monte Santo, no sertão baiano, de onde foram levadas.

Na terça-feira (27), o juiz Luiz Roberto Cappio, de Monte Santo (BA), determinou que as cinco crianças baianas que foram entregues para adoção a famílias paulistas voltem a viver com os pais biológicos. Segundo o juiz, o processo de adoção das crianças ocorreu em meio a diversas irregularidades. 
Os pais biológicos dizem que elas foram retiradas de casa em junho de 2011, pela polícia, após ordem do juiz Vítor Manoel Xavier Bizerra, que na época atuava em Monte Santo. Dos cinco filhos do casal, dois mais velhos foram levados para Campinas. Os outros foram para Indaiatuba, cidade vizinha.

Quando deixaram Monte Santo, as crianças tinham entre dois meses e seis anos de idade.

A advogada que defende as famílias adotivas em São Paulo, contudo, afirma que irá recorrer da decisão.
“As famílias são as maiores vítimas, em conjunto com essas crianças que, com um ano e meio de relacionamento, com o trato que se teve durante todo esse tempo e, inclusive com o convívio com outras crianças também adotivas, vai trazer muito problema para todas elas”, aponta a advogada Lenora Steffen Panzetti.
A advogada afirma que as crianças foram entregues à guarda provisória dos pais adotivos por recomendação do Ministério Público da Bahia.
“Quem ingressou com o pedido para que as crianças fossem retiradas (dos pais biológicos) foi o Ministério Público. Isso há de ser esclarecido. Isso há de ser informado à população em geral que se condoeu pela mãe e que acusou como algozes dessa história as famílias de São Paulo”, ressalta Lenora.
O Ministério Público baiano, porém, entende que não houve erro. “Não. O que ocorreu foi um pedido de aplicação de uma medida protetiva, que não implicava em retirada dessas crianças do município. Não implicava em perda ou suspensão do poder familiar e muito menos na entrega dessas crianças às outras famílias”, afirma o promotor  Luciano Tacques Ghignone, que está com o caso.
“Essas famílias, embora, de alguma forma, ludibriadas, elas em algum momento, e eu digo momento quando chegaram no Fórum de Monte Santo, elas tomaram pé, tomaram ciência de toda a situação irregular e mesmo assim decidiram continuar com esse processo de violência, eu diria, a essas crianças. Então agora precisam assumir a co-responsabilidade por esse transtorno todo”, afirma o juiz Cappio.

Mãe com guarda provisória nega devolução
O encontro porém, entre a mãe e as crianças, enfrenta empecilhos. A primeira família procurada pelos agentes de Justiça, na sexta-feira (30), recusou-se a entregar a criança.
Uma das mães que possuía a guarda provisória diz que não concorda com a devolução. “Desde o começo, nós fizemos tudo da forma mais correta possível. Nós levamos documentos, eu estava inscrita no cadastro nacional. Ninguém pagou”, afirma a mãe adotiva.
As famílias adotivas que vivem no estado de São Paulo afirmam que as crianças sofriam maus-tratos na Bahia e que estão preocupadas com o futuro deles.
“Durante um ano e meio ela está vivendo comigo. Como vou devolver essa criança? Ainda esses dias eu pensei: ‘meu Deus, como vai ser essa criança se, Deus o livre, ela voltar (aos pais biológicos). Vai voltar a comer o quê?”, questiona uma mãe adotiva.
Expectativa de reencontro
Já Silvania está na expectativa de ter os filhos de volta ao lar. Ela está com uma casa nova, que foi alugada com três quartos, cozinha, banheiro e quintal, para receber os cinco filhos em Monte Santo após a casa da família ter sido incendiada há duas semanas.

“Não vejo a hora. Abraçar meus filhos, beijar”, diz Silvania. “O Ricardo (um dos filhos) acordava primeiro. Eu levantava, fazia o café, ele já esperava o pão, que ele mesmo comprava. Nunca esqueci. Sempre vendo as coisas deles, nunca esqueci. Sempre com eles no pensamento”, lembra a mãe.
Gerôncio, ex-marido de Silvânia e pai de quatro delas, deve também seguir para São Paulo para rever os filhos.
“Vou perguntar ao Ricardo: ‘está me conhecendo, filho?’ Ele vai me olhar, eu sei. Eu tenho certeza que ele vai”, garante o pai.
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